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Como os jogos violentos realmente nos influenciam?

26-01-2014 23:54

Qualquer pessoa - seja criança, jovem, adulto ou melhor idade - que tenha como hobby os jogos virtuais muito provavelmente já leu, ouviu ou até mesmo sofreu diversas acusações feitas tanto aos jogos quanto aos jogadores. Seja no churrasco da família, na sala de aula, no programa de televisão, algum "entendido no assunto", em alguma conversa, cita os males que os "joguinhos" que você tanto gosta podem te trazer. Tais acusações, muitas vezes, estão ligadas à violência de alguns desses jogos, e à possível influência que essa violência exerce sobre seus jogadores.


Os que já viveram além dos 20 e poucos anos, como eu, puderam ver como até mesmo o governo brasileiro, dotado de boa vontade e desejo de que os jovens brasileiros crescessem sadios, inteligentes e controlados, proibiu a venda de alguns jogos em território nacional, sob a alegação geral de que a violência  contida nesses jogos era prejudicial aos jogadores. Isso não fez com que tais jogos não fossem jogados - muito pelo contrário, estamos falando de jogos como Counter Strike e Duke Nukem 3D. O segundo fez muito sucesso entre os jovens no início do século, enquanto que o primeiro dispensa apresentações.

Counter Strike, proibido em 2007. Por culpa da proibição, foi um fracasso no Brasil, certo? Errado.

A principal questão é: quais são os argumentos utilizados por essas pessoas e/ou entidades, para acusar, proibir ou até mesmo defender os jogos com conteúdo violento? Muito pouco conteúdo verdadeiramente científico era produzido quando esse assunto começou a aparecer, e resultados verdadeiramente conclusivos ainda são muito escassos. O pessoal do Kotaku fez uma bela matéria há alguns dias, que pode ser conferida aqui. Recomendo a leitura para quem quiser entender mais sobre essas pesquisas e quais foram os resultados delas.


Por outro lado, o ser humano já possui conteúdo bem estabelecido em diversas áreas do conhecimento, e que pode ser ligado de maneira indireta à questão, mas que fica à mercê do interlocutor, consequentemente podendo ser interpretado de muitas maneiras e, por sua vez, vem sendo utilizado como prova cabal para seu argumento. Por falta de conhecimento específico na área, utilizam (muitas vezes de maneira errada) por exemplo conhecimento de várias áreas da psicologia e psiquiatria, além de senso comum e até mesmo religião para sustentar suas teorias. E é aí que, para mim, existe o erro. Enquanto não existirem provas concretas do que está sendo dito, não passa de opinião. Opinião todos nós podemos ter, mas devemos entender que é uma escolha que fazemos, a partir de nossos princípios, da maneira que vivemos e que aprendemos a ver o mundo.


Uma das coisas que me fez escolher a psicologia como profissão foi a ideia de que um psicólogo, como agente externo, tem a capacidade de ver uma situação e analisar as várias facetas dela, e chegar a uma hipótese a partir dessa análise. Algo como ver os dois lados da moeda. Para mim, talvez por sorte, isso é algo que sempre pensei desde criança. Munido disso, eu convivi e ainda convivo tanto com os jogos que eu sempre gostei, quanto com as diversas acusações que esses jogos sempre sofreram. Provavelmente por meu pai ter me criado de uma maneira mais democrática, evitando proibições e com muito diálogo, nós não tivemos problemas com jogos violentos em casa. Mas tem sempre aquela tia distante, cheia de certezas sobre o mundo, e que sempre que podia atacava o "mal do videogame". Isso fez com que eu questionasse, com a ajuda do meu pai, até que ponto isso é uma verdade, e não uma frustração ou não entendimento vindo dessas pessoas? Se os jogos são tão ruins assim para mim por serem violentos, o que falar dos filmes de Hollywood, por exemplo, que já estavam presentes quando esses mesmos críticos cresceram, e que também fizeram parte da juventude deles? E a violência retratada de segunda à sabado nas novelas, e que aquela tia vivia comentando com as vizinhas? Será que simples jogos são tão ruins assim para mim? E desde então, eu também já tinha a minha opinião. O curso de psicologia, por outro lado, me deu conhecimento para usar como suporte para essa opinião.


Para mim os jogos violentos são uma ótima ferramenta de catarse. É um ótimo lugar para extravasar as energias, agressividade, ansiedade e tudo mais. De fato somos influenciados pela violência nos jogos, mas deve ser lembrado que somos influenciados por tudo que fazemos, não só pela violência. O principal aí é como cada um de nós reage, como cada um vive suas experiências e como cada um lida com isso. Os videogames têm classificações etárias, e elas não são só de enfeite. Elas são uma tentativa de enquadrar o jogo na faixa etária que melhor consegue entender o conteúdo do jogo, sem que isso afete seu modo de ser, pensar e agir. Jogos como GTA V, por exemplo, retratam a violência de uma maneira extremamente gráfica e elaborada. Essa complexidade presente nos jogos, principalmente nos mais atuais, realmente exige uma maturidade do jogador para discernir tais situações. Não digo que, consequentemente, crianças têm dificuldade em diferenciar o jogo da realidade, mas sim que podem vivenciar algumas situações em jogos e, pela complexidade da situação, em conjunto com a falta de maturidade exigida por ela, interpretar de maneira errada essa situação. É aí que entra o bom senso dos pais e educadores. A questão não é proibir jogos violentos, principalmente porque os mesmos argumentos para os jogos podem ser usados para o cinema e a televisão, que vêm trazendo violência pra quem assiste desde que esses começaram a existir.


Por outro lado, existem sim pessoas que jogam videogames e cometem atos de violência, mas o pensamento não pode seguir a ordem inversa, onde um único estímulo ou um conjunto deles causa um transtorno. As pessoas que, de fato, apresentam esses problemas, não "ganharam" esses problemas de presente em um jogo violento. Muito pelo contrário, elas já têm um problema, e o videogame é só mais um estímulo dentre muitos outros que alimentavam, ou não, esse problema. Nesses casos, o jogo pode sim ser o estopim do transtorno ou da crise, mas qualquer outra coisa também pode. Literalmente qualquer outra coisa. Isso vai mudar de pessoa para pessoa. E se a solução for proibir a violência nos jogos porque algumas pessoas, já com seus transtornos, foram afetadas - por culpa desses transtornos, devemos proibir também qualquer outra coisa que possa afetar essas pessoas. Como eu disse, vai ter que proibir, literalmente, tudo. Proibir nunca é e nunca foi uma boa solução.

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Um abraço e até a próxima!
Diogo.